“Vejo o povo brasileiro um pouco mais indignado que antes”

Nome: Raquel Diniz
Idade: 32
Estado: Sou de Belo Horizonte, Minas Gerais. Moro em São Paulo, capital.
Ocupação: Montadora/editora de imagens
Estudos: Formada em jornalismo

1. Você acha que a vida no Brasil mudou pra melhor nos últimos anos? Em que áreas?

Acho que a vida financeira pra muitos brasileiros mudou pra melhor, principalmente os de classe muito baixa. A desigualdade social diminuiu com o governo Lula, o que fez a economia brasileira crescer e gerar novos empregos em diversos setores da indústria nacional. Ao mesmo tempo, de uns anos pra cá, o Brasil dobrou o preço em tudo: moradia, comida, transporte… o que me faz entender que isso não é sinal de melhora, já que tenho muitos amigos sem trabalho e alguns ganhando o mesmo salário de anos, mas gastando em dobro. Além, a violência em cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo e Recife pioraram e muito. Além, a corrupção também aumentou em todo o país. Então vejo um equilíbrio entre o que piorou e melhorou.

2.  Você acha que sua vida mudou pra melhor? E a vida daqueles perto de você? (família, amigos, colegas de trabalho…).

A maioria dos meus amigos não estão bem financeiramente. Além, grande parte deles não trabalha no que gosta e o faz para sobreviver. Numa pesquisa recente 94% dos brasileiros não trabalham com o que gostam e acho isso bastante grave. Na minha área como montadora, acho que a profissão foi ganhando espaço na sociedade. Hoje em dia qualquer um pode editar um vídeo em casa, então acabo perdendo trabalhos pois o campo está altamente ampliado. Mas vejo isso algo natural na transformação das profissões. Com o jornalista está acontecendo a mesma coisa. Cada um de nós pode ser um jornalista num simples texto, vídeo ou foto publicado na internet.

3. Quais as vantagens e desvantagens de se viver no Brasil?

Talvez o lado mais positivo que vêm os estrangeiros é o fato do brasileiros serem extremamente sorridentes e cordiais. Existe uma certa improvisação e descontração que vejo como algo positivo. O fato de tudo estar sempre bem pro brasileiro pode ser uma vantagem quando se quer relaxar e gozar a vida, mas ao mesmo tempo uma alienação e falta de interesse em pensar no pró-comum.
Vejo mais pontos negativos que positivos morar no Brasil, talvez por ter uma natureza mais crítica e ser sensível o suficiente pra me sentir incomodada por mim e pelos outros. O transporte é ruim e  caro, a comida cheia de agrotóxicos, o governo e a polícia são corruptos, a mass midia dominante mais aliena que informa, e a elite e a sociedade em geral é classista, a educação (da maioria) de baixo nível, saúde pública que não cobre as necessidades… são pontos básicos que me fazem ver o Brasil com uma cara bem feia. O que salva mesmo é a natureza que ainda não terminamos de exterminar.

Aqui vivemos o momento em que muitos que não tinham nada agora estão felizes, comprando, com trabalho e os bancos também estão bastante contentes com a quantidade de dinheiro que emprestaram e com os juros que vão ganhar.

4. Acha que surgiram novas oportunidades de trabalho? Já se beneficiou delas?

Acredito que baseando nos números que se divulgam e por ouvir alguns reclamarem que nos aeroportos têm mais gente que antes (ouvi um depoimento de um filósofo dizendo que se incomodou com o fato de terem mais pobres nos aeroportos), então entendo que a economia do país cresceu, se consome mais e se endivida mais também.
Aqui vivemos o momento em que muitos que não tinham nada agora estão felizes, comprando, com trabalho e os bancos também estão bastante contentes com a quantidade de dinheiro que emprestaram e com os juros que vão ganhar. O Brasil tem um dos maiores juros bancários do mundo. No meu caso não me beneficiei com as novas oportunidades de trabalho por ser de classe média. Como disse antes, minha profissão sofreu profundas transformações. Qualquer um hoje pode ter uma câmera e montar um vídeo e acho isso muito bom.

5. Você acredita que o crescimento econômico da classe C é uma realidade ou apenas números divulgados pela mídia?

Não sei responder essa pergunta com certeza, mas acredito que houve aumento no consumo em geral. Dizem que os papéis higiênicos de folha dupla aumentaram muito o consumo, o que explica a necessidade brasileira de se sentir em uma classe social mais elevada.
Além, o brasileiro está se tornando exageradamente evangélico, o que desperta o interesse por dinheiro e por mais consumo, consequentemente a vontade de trabalhar mais e ganhar mais dinheiro. Além, a necessidade de ter objetos de alto custo, como tv de plasma, iphones entre outros, faz a população, criada e estimulada a consumir, passar a vida toda endividada, pagando em 48 vezes… e sempre desejando consumir mais.

6. A respeito da mentalidade brasileira: você enxerga mudanças? A sua mentalidade mudou também?

Pra mim, a mentalidade brasileira tem mudado sim na necessidade de consumir. Um país emergente reflete muito nesse ponto econômico. No mais, vejo o despertar social entre muitos amigos, coisa que antes não via. Mas acredito que não é algo que está acontecendo especialmente aqui, mas sim, um reflexo do que está acontecendo fora e chegando até nós. Vejo o povo brasileiro um pouco mais indignado que antes, mesmo com a mass mídia tentando nos fazer acreditar que somos o povo mais feliz do mundo. Que pra mim, quem é feliz demais é alienado.

Vejo movimentos culturais e digitais bastante interessantes acontecendo aqui, nos quais não passam pelas grandes empresas ou pelo aval de multinacionais, nem governos. Estamos começando a despertar, bem lentamente. Já eu, sinto que mudei radicalmente depois de morar em Madrid por dois anos e acompanhar o crescimento de uma sociedade indignada com o sistema e os governos. Essa indignação e interesse no pró-comum foi o que mudou minha maneira de ver a vida, de desejar o bem comum e atuar não só pro meu próprio umbigo e sim por todos.

 O Brasil é um excelente viveiro de mentes criativas. A música é o maior exemplo. Talvez seja um dos pontos que admiro muito no brasileiro, sua capacidade criativa.

7. Acredita na ascensão de uma nova classe criativa? (novos talentos, valores…)

Nisso posso dizer que o Brasil é um excelente viveiro de mentes criativas. A música é o maior exemplo. Talvez seja um dos pontos que admiro muito no brasileiro, sua capacidade criativa. Estou conhecendo pessoas ligadas à cultura e redes digitais que estão me surpreendendo. A Casa Fora do Eixo é uma delas. Além deles promoverem shows (música, teatro, cinema creative commons) em toda América Latina, eles estão criando um núcleo que chamam mídia-livrista, que é um jornalismo livre de empresas e governos que divulgam acontecimentos de relevância social e cultural em tempo real pela internet. Essa não é uma novidade no mundo, mas não estamos pra trás nisso.

Além, no governo Lula tivemos um ministro da cultura, Gilberto Gil, que nos abriu as portas pras novas tecnologias, redes digitais, novas plataformas e novas maneiras de compartilhar cultura que foi bastante inovador. Agora mesmo não vivemos nosso melhor momento no fomento da cultura, mas basta limpar os matuzaléns do governo e partir pra era da nova tecnologia criativa, social, cultural e política que é o movimento natural em todo o mundo no século 21.

8. Segundo a sua opinião, quais são as melhores cidades ou estados para se viver no Brasil? Acha que continuarão sendo no futuro?

Infelizmente o Brasil só tem duas cidades onde a maioria das pessoas ambiciosas profissionalmente, culturalmente… (no bom sentido), desejam viver que é Rio de Janeiro e São Paulo. Mas essa pergunta vai variar muito de pessoa pra pessoa e de momentos de vida. Talvez morar numa cidade histórica, ou numa praia pouco turística seja a melhor opção pra muitas pessoas que não suportam a cidade grande, mas sabemos que Rio e São Paulo são as cidades mais importantes do país.

Eu já morei nas duas cidades e não acho que são as melhores para se viver no Brasil, mesmo sendo particularmente uma pessoa urbana, que gosta de grandes cidades. Vejo muitos problemas nessas duas capitais mas acabo morando nelas por necessidade profissional. A qualidade de vida nelas é bastante baixa, pela falta de infraestrutura que cubra a necessidade de todos, além são violentas, caras e caóticas. Não sei quais seriam pra mim os melhores lugares para se viver no Brasil. Talvez, numa cidade de praia, com natureza, não violenta e com um nível cultural razoável seria meu ideal. Mas ainda não conheço nenhuma cidade que não seja violenta. Acredito que Rio e São Paulo continuarão sendo pelos próximos anos as duas cidades mais importantes do país, como já são há muitos anos.

9. Você já viajou fora do país? Já morou fora ou pensou em morar fora?

Desde que tinha 15 anos brotou dentro de mim o desejo de morar fora do meu país, de conhecer outras culturas, me abrir pro mundo e falar outras línguas. Já tive a sorte de poder conhecer países longínquos do meu, com histórico e comportamento oposto do que já tinha vivido e aí passei a compreender um pouco mais o planeta que vivemos e nossas diferenças culturais. Já morei em Madrid, por dois anos e me apaixonei perdidamente pela cidade, por sua gente, pela sua comida e principalmente pela maneira de ser do espanhol. Inclusive, estou casada com um.

10. Você tem esperança de um futuro melhor?

Pra mim, o mundo sempre sofreu e sempre sofrerá mudanças que se equilibram nos dois lados. Se uma coisa é muito ruim, do outro lado é muito boa, e claro, tudo depende do ponto de vista. Vemos no Brasil um crescimento econômico que muitos saíram do estado de miséria, mas ao mesmo tempo a violência e a corrupção no país aumentou. Então vejo que o mundo segue sempre esse equilíbrio, melhora daqui, piora de lá e assim seguimos.


2 thoughts on ““Vejo o povo brasileiro um pouco mais indignado que antes”

  1. Depois de muitos Vlogs, eu decidi que vou me mudar desse país.
    Mas não agora, vou fazer faculdade, um emprego estável e fazer cursos.
    .
    E me manda! não aguento mais esse país absurdo!
    É muita corrupção no Governo e entre as empresas.
    Os preços absurdos!
    .
    Eu já decretei! tô Fora!

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